Dia 05 de fevereiro de 2017
"MORDOMIA BÍBLICA (2)"
Em nosso primeiro texto, aprendemos que “Mordomia bíblica” é “a prática sistemática e proporcional de dar do seu tempo, habilidades e posses materiais baseada na convicção de que essas coisas são confiadas a nós por Deus para serem usadas para o benefício do Seu Reino. É uma parceria divina-humana, tendo Deus como parceiro majoritário. É um estilo de vida que reconhece que Deus é o nosso Dono (das coisas imateriais e materiais) e que usa fielmente essas coisas para o avanço do Seu Reino na terra”.
Também tratamos da Mordomia da Vida, da Mordomia do Tempo e da Mordomia de Dons e Talentos.
Outro aspecto da M.B. é Mordomia dos Bens Materiais: O Salmo 24.1 nos ensina que o nosso Deus é o Dono de tudo o que há no Universo físico (e espiritual). Isso inclui aquilo que chamamos de nosso. Alguém já disse que “os as nossas coisas nos servirão ou nós serviremos a elas”. Como é fácil para o homem tornar em um ídolo uma bênção material dada por Deus. A bênção recebe aquilo que deveria ser dado ao Abençoador.
A mordomia dos bens é usá-los para nos servir e, principalmente, servir às pessoas. Bênçãos devem ser canalizados por nós e nunca represadas em nós. Bens materiais não são uma exceção a esta regra.
Um dos perigos que enfrentamos é a ilusão de que “precisamos muito” de algo. É um desejo hedonista que nasce de um vazio deixado pela satisfação em Cristo. Ora, se nos sentimos assim para com aquele objeto, como o colocaremos a serviço do nosso próximo?
Obviamente, há critérios e cautelas quanto a quem ou quando compartilhamos coisas materiais. A maldade do ser humano é, infelizmente, um fato. Mas, frequentemente chamamos de critério ou cautela aquilo que é simplesmente nossa idolatria e avareza. Um exame do nosso coração é, portanto, indispensável se pretendemos glorificar a Deus nesta área.
Mordomia das Finanças: como foi dito no primeiro artigo, muito limitam a M.B. a dinheiro. Como foi visto até agora, esta é uma visão limitada. Porém, claro que também inclui dinheiro, dízimos, ofertas e etc... Vivemos no mundo real e, nele, nada se faz sem dinheiro. Se não custou a quem recebeu, custou a quem deu. As coisas não se materializam “do nada”. Elas são extraídas, produzidas e comercializadas. Assim, aquilo que deveria ser algo tranquilo, tem se tornado uma questão complexa no meio cristão.
Talvez porque muitos estejam caindo no alerta de 1 Timóteo 6.10, “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”. É importantíssimo reparar que não se trata do “dinheiro”, mas do “amor ao dinheiro”. Semelhante ao que disse anteriormente, ele de torna um ídolo em nossas vidas. E falhamos como mordomos das finanças a nós confiadas por Deus.
Falhamos quando usamos mal aquilo que Deus nos dá para nossa subsistência. Reconhecidamente, a maior parte do que ganhamos destina-se a nossa alimentação e o cuidado com nossas famílias. Alguém já disse que podemos ser espirituais com os 10% que ofertamos, mas extremamente incrédulos com o que fazemos com os demais 90%. Dívidas, gastos supérfluos, vaidades e avareza são manifestações de péssima mordomia. Nosso orçamento e nossos gastos devem ser feitos em oração. É uma péssima ideia achar que tendo entregue a minha oferta, o resto não é da conta de Deus. Ou, no máximo, que seja uma obrigação dEle nos abençoar com o resto. Um caminho escorregadio é este.
Do outro lado, há o investimento na obra do Senhor. O dízimo não possui as características que tinha para o povo judeu. Prosperidade e riquezas não são promessas para o cristão. Uns serão, outros não; segundo o propósito soberano de Deus. Ainda assim, o dízimo é um bom princípio de contribuição voluntária, como estabeleceram os patriarcas, antes da Lei. Mas, ele não é tudo. O quanto devemos ofertar para a obra local, para missões ou em oportunidades que nos apareçam para ajuda ao próximo deve ser algo mantido em oração e levado a sério na execução. Nossa oração deve ir além de supostos 10% e dizer, “Senhor, quanto daquilo que tens me dado, eu devo devolver para o progresso do Teu Reino?”. Esta é uma questão de intimidade e dependência. A viúva deu tudo o que tinha, mesmo que fossem apenas duas moedas de cobre. Muitas vezes, somos liberais com nossos caprichos, mas “pães-duros” com as necessidades do Reino.
*Texto adaptado a partir de conceitos da apostila do pr. Ben Chopane Ndobe.
Dia 12 de fevereiro de 2017
"A EBD AINDA É NECESSÁRIA?"
Em primeiro lugar, é preciso concordar com o que alguns colocam: não existe Escola Bíblica Dominical na Bíblia. Mesmo sendo óbvia a colocação, ela tem algo mais sutil por trás. Se não está lá, não precisamos praticar. Claro que o argumento é fraco no sentido de que o que praticamos com a EBD não é ela em si mesma, mas o hábito piedoso de estudar as Escrituras.
A EBD faz parte de um aspecto mais amplo de uma igreja local que é o Ensino. Ao qual somamos Adoração, Comunhão, Intercessão, Serviço e Proclamação como os seis pilares da eclesiologia bíblica. Tudo o que fazemos ministerialmente deve estar debaixo de um (ou mais) desses pilares.
A EBD surge na Inglaterra no século XVII com ensino bíblico, mas também para ajudar a combater o analfabetismo que atingia a maior parte da população. As Escrituras eram o livro texto usado para ensinar a ler e escrever. Com a chegada a partir dos anos 1870 de leis que tornavam a educação universal e compulsória, a EBD se manteve no ensino bíblico, tendo deixado uma marca inapagável nas gerações até então.
Ou seja, interessantemente, a EBD não perdeu sua utilidade quando o estado cumpriu com a sua, bem como nem deixou a sua responsabilidade principal (ensinar a Bíblia) para fazer o que o estado não fazia.
Assim, a EBD manteve-se uma constante comum a praticamente todas as igrejas protestantes e evangélicas por mais de 200 anos! Com a chegada dos chamados movimentos modernos de crescimento de igreja e uma abordagem mais “moderna” de igreja, muitos começaram a questionar a necessidade da EBD na igreja local. Mais uma vez, Charles Haddon Spurgeon parece profético em suas palavras a futuros pastores, “Espero que vocês não tenham se esquecido completamente da escola dominical, mas temo que um grande número de cristãos mal a conheça".( SPURGEON, Charles. Conselhos para obreiros, pg. 127). Em seus dias, mais de 100 anos atrás, Spurgeon já percebia traços de ameaça à EBD. E é o que de fato vem acontecendo mais e mais.
Uma razão do abandono da EBD é a teologia rasa de diversas denominações. Se o objetivo é promover o “milagre”, o misticismo e arrecadar dinheiro, ensino bíblico seria algo contraproducente. Povo esclarecido é mais difícil de enganar.
Outra razão é que não é “atraente” para o homem de hoje. A EBD é, então, trocada por atividades mais “decoladas”, informais e casuais. Em diversas dessas igrejas, os grupos pequenos são focados mais nos relacionamentos do que centrados no compartilhar das Escrituras. São “Koinonites” onde a comunhão e (claro) o crescimento numérico são o foco.
Porém, infelizmente, o fim da EBD em outras igrejas tem a ver com a própria membresia da igreja. Com menos e menos pessoas interessadas em sentar e aprender, lideranças acabam cancelando totalmente a EBD. Não é de se surpreender o desinteresse. Os cultos noturnos são grandes produções de entretenimento com mensagens que não confrontam. Por que as pessoas seriam atraídas para aquilo que claramente não é o foco daquela igreja?
Porém, a realidade é que a EBD um singular valor na vida de uma igreja local. Mesmo em uma que tenha as Escrituras em todas as suas demais reuniões.
A EBD traz um momento acadêmico onde o ensino da Palavra busca informar para transformar. O conhecimento bíblico era o divisor de águas no Antigo Testamento. O tendo, eram prósperos. O abandonando, eram destruídos. Obviamente, que não se trata de acúmulo de conhecimento, mas de conhecer para obedecer e para adquirir discernimento diante do dia a dia.
A EBD traz um momento de esclarecimento. O culto público não possibilita a interrupção para se tirar uma dúvida. O ambiente da EBD é perfeito para isso.
A EBD traz um momento de aprofundamento. Durante a exposição da Palavra, doutrinas serão mencionadas e ensinadas. Mas, na EBD se pode aprofundar o ensino sobre cada tema e doutrina.
Finalmente, termino dizendo que Satanás ganha uma grande batalha quando (1) igrejas abandonam a prática da EBD e (2) quando cristãos não valorizam o tempo de aprendizado que a EBD busca lhes proporcionar.
Que não erremos por não conhecer as Escrituras.
Dia 19 de fevereiro de 2017
"AS TRÊS PALAVRAS-CHAVES NA VIDA DE UM MENSAGEIRO DE DEUS"
Antes de mais nada, é fundamental estabelecer que este não é um texto para pastores, pregadores ou missionários... apenas. Todo cristão é um mensageiro. No instante da nossa conversão, uma mensagem é entregue em nossas mãos e destinatários já esperam por ser alcançados.
Eu poderia usar a metáfora de um carteiro. Mas, como se verá nas palavras que usaremos, a metáfora não se encaixaria.
Começaremos por λόγος, Logos. Esta palavra que possui dezenas de significados, pode significar apenas “palavra, mensagem, assunto”. O mensageiro leva para seus destinatários uma mensagem específica. Seu papel não é de dar a sua interpretação ou fazer uma re-leitura da mensagem. Seu papel é ser fiel e entregar o que recebeu. Ipsis litteris, "literalmente" ou "nas mesmas palavras" é o alvo do mensageiro e não ser criativo ou dar um toque pessoal. A mensagem deve sobressair e eclipsar o mensageiro.
A razão disso é que é a mensagem com a sua Verdade que é instrumento nas mãos de Deus e através do Espírito Santo para alcançar as pessoas. Não devemos ser contra a criatividade no meio pelo qual se transmite a verdade. Porém, muitos focam tanto na criatividade do meio em si que acabam perdendo no conteúdo da mensagem; exatamente a parte mais importante.
Já houve casos em que a vontade de se fazer algo para Deus terminou em algo desastroso para a identidade de um cristão ou uma igreja porque as pessoas envolvidas sabiam muito sobre os métodos (criativos ou não) que queriam usar, mas, muito pouco sobre a fidelidade necessária para a transmissão apropriada do mensagem e seu conteúdo.
A segunda palavra-chave na vida de um mensageiro é πάθος , Pathos. Significando, “sofrimento, desejo, paixão”, esta palavra na vida do mensageiro é o fator que torna viva a mensagem para aquele que a recebe, no primeiro momento em que a recebe.
O melhor dos vendedores é aquele que nos faz acreditar que ele, de fato, acredita no produto que está vendendo. O mensageiro cristão, contudo, não usa de pathos por pretexto ou desonestidade de caráter. Tendo sido ele mesmo já ganho por esta mensagem, nada mais honesto do que transparecer isso. incrivelmente, de forma oposta a um vendedor que parece sincero ao demonstrar entusiasmo com algo que ele não acredita, o mensageiro é desonesto quando não demonstra entusiasmo com a maior mensagem de todos os tempos!
David Hume era um opositor da mensagem do pregador George Whitefield. Um dia quando ele correia para ouvir Whitefield alguém lhe perguntou porque a pressa se ele não acreditava no que era pregado. Hume respondeu, “Certamente não acredito; mas, George Whitefield acredita”. Ele havia sido conquistado a ouvir a Verdade através do pathos do mensageiro, através da paixão da pregação de Whitefield.
Finalmente, podemos ser fiéis ao conteúdo e apaixonados na transmissão, mas ainda estar em falta. ἔθος , Ethos, é “um modo usual ou costumeiro de comportamento, hábito, uso ou prática estabelecida há muito tempo, comum a um grupo”. Até um péssimo comportamento pode ser Ethos, desde que esteja de acordo com o grupo ao qual se pertence. Porém, se o mensageiro pertence ao povo cristão, seu ethos deve refletir a Verdade contida em sua mensagem. Efésios 4.17-32 não é uma mera lista de regras comportamentais. É uma lista de partes de um modo de vida digno da vocação (Ef 4.1) que recebem aqueles que são escolhidos por Deus (Ef 1.4) em Cristo.
É evitar a vergonha de ouvir a frase, “O que você faz grita tão alto que não posso ouvir o que você diz”. De fato, muito mensageiros estão calados porque, no fundo, sabem que suas vidas envergonham a mensagem.
Em resumo, invista em cada uma dessas palavra, dessas áreas, mas, nunca deixe de cumprir seu papel como mensageiro. Não somos voluntários, somos servos. E o nosso Senhor e Rei não deseja desculpas, mas arrependimento, mudança e obediência.
Há grande alegria em ser consumido por esta missão e ser exemplos vivos de Logos, Pathos e Ethos.