top of page

Dia 05 de junho de 2016

“PARA BAIXO, TODO “SANTO” AJUDA (parte I).”


    O nosso título vem de um ditado conhecido. Creio que a lógica por trás dele é apenas que a gravidade nos ajuda a cair, mas nos dificulta nos levantarmos. Pra cima, precisamos mais do que a ajuda de “santos”.
O sentido contrário da queda é o assunto do Salmo 51. O incrível é que ele registra no seu título um sumário dessa queda, “Escrito quando o profeta Natã veio falar com Davi, depois que este cometeu adultério com Bate-Seba.”. Caso você esteja desfamiliarizado com o “grande pecado” de Davi, leia 2 Samuel 11.
    Em algum momento, depois de confrontado pelo profeta Natã, Davi resolve imortalizar ainda mais sua queda ao fazer uma música sobre sua subida em busca de restauração. E, com um texto desta magnificência, seria tolice e desrespeito voar por cima dele e perder ricos e edificantes detalhes. Por isso, vamos por partes.
    Davi começa clamando pela misericórdia de Deus. Aquele ato de Deus em não nos dar o que merecemos. Enquanto Graça, por outro lado, é Ele nos dar que não merecemos. Davi merecia a morte. Segundo a Lei Mosaica, ao adulterar, ele era passível de apedrejamento. E, ao tirar a vida do esposo do esposo de Bate-Seba, deveria pagar vida com sua vida. Essa misericórdia entra exatamente neste contexto. Davi tem a humildade de não basear seu pedido em nada em seu longo currículo de serviço a Deus e de feitos grandiosos com a ajuda de Deus. Antes, ele clama “por Teu amor; por Tua compaixão”. Não há nada em nos que possamos apresentar diante de um Deus três vezes santo que Lhe serviria de suborno ou barganha. Diante do nosso pecado, estamos complemente à mercê de Sua Graça e Misericórdia.
    O pedido de Davi é simples: “apaga as minhas transgressões. Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado.”. Interessante que não há nenhuma menção de pedido para que Deus tirasse qualquer conseqüência do seu pecado. Facilmente, nos preocupamos mais com o que vai acontecer conosco do que com o que fizemos para com as pessoas e, especialmente, para com Deus. De forma adequada, Davi deseja se livrar da corrupção do pecado, na qual ele se encontrava. O coração realmente penitente e arrependido deve ter o pecado cometido contra Deus no cerne de suas intenções. Cada ato pecaminoso nosso hoje foi levado antecipadamente por Cristo naquela cruz. A preciosidade do sacrifício dEle deve ficar clara de nossa parte pela nossa repulsa pelo pecado. Nos termos de Davi, precisamos de ser lavados e purificados porque o pecado contamina quem somos em Cristo.
    Porém, Davi também era motivado pela culpa e pelo peso que o pecado causa em nós. Isso vem do Espírito Santo (Jo 16.8), o qual busca nos deixar desconfortáveis quanto ao pecado que não combina mais com nossa nova natureza em Cristo. Então, Davi reconhece sua culpa e declara a presença dela constantemente. Talvez isso fosse ilustrado de forma prática na presença de Bate-Seba agora em sua vida e, claro, sua gravidez. Geralmente, nossos pecados terão representações ao vivo em nossas vidas. O perdão de Deus virá, mas consequências do nosso pecado podem ficar e o desafio será aplicar a Graça de Deus e continuar em frente apesar das consequências.
    Nos versos 4 e 5, Davi nos ensina coisas preciosas sobre a doutrina do pecado. Primeiro, todo pecado é, em última análise, contra Deus. Tendo ou não pessoas envolvidas, é a Deus que estamos ofendendo e à Sua santidade que estamos manchando. Em especial, o cristão que tem o Espírito habitando em sua vida. Segundo, Deus está completamente dentro do Seu direito e poder quando (e se) executa uma sentença contra o meu pecado. Clamar podemos; nos ouvir é escolha dEle! Lembremos que começamos nossa oração neste salmo pedindo misericórdia pelo amor e compaixão de Deus. Portanto, devemos tirar de nossas mentes quaisquer pensamentos de mérito de qualquer outro tratamento que não seja a justa condenação de Deus. E, ainda assim, incrivelmente, Ele não nos trata como merecemos. Terceiro, Davi nos ensina que o pecado não é um visitante furtivo e inesperado. Antes, nós nascemos assim. A natureza pecaminosa acompanha cada ser humano desde o seu nascimento, sendo, claro, Jesus a única exceção. Creio que o que Davi está querendo transmitir com este ensino é ressaltar mais uma vez que, à parte da Graça de Deus, o que aconteceu com ele, o que acontece conosco com nossos pecados, é uma esperada manifestação da nossa natureza decaída e escravizada pelo pecado. Sem a libertação que viria em Cristo, não sabemos ao certo qual era a condição espiritual dos servos de Deus no Antigo Testamento. Mas, sabemos que hoje, em Cristo, a natureza adâmica (de Adão) é cancelada pela natureza cristã (de Cristo). Mesmo que ainda sobre grave influência da nossa carne, não somos mais escravos dela e do pecado.
    Mas, Davi não terminou. Há muito mais a aprender com esta canção/confissão. Espero que você acompanhe a próxima parte.

Dia 19 de junho de 2016

“PARA BAIXO, TODO “SANTO” AJUDA (parte III).”

    Tendo parado no verso 12, chegamos à terceira parte do Salmo 51, texto no qual Davi expõe os bastidores da sua queda em pecado mais conhecida: o adultério com Bate-Seba. As partes dois e três podem ser encontradas nos boletins dos domingos anteriores e no site da Comunidade Batista Videira.
    No verso 13, Davi passa a olhar para o futuro, para uma realidade de vida pós-restauração. E isso é importantíssimo. O cristão é conclamado a reconhecer seus erros e consertá-los, mas não a ficar “lambendo as feridas” eternamente. Uma atitude de vitimismo e auto-piedade, sem falar na depressão por causa dessas atitudes, são contrárias ao que nós somos em Cristo.
    Davi deseja ser instrumento de ajuda aos que estão andando longe de Deus, em pecado e desobediência. Talvez, inclusive, vivendo o mesmo que ele viveu. Ele aponta nisso que o objetivo da repreensão do pecado não é a condenação ou destruição da pessoa, mas sua restauração. Igualmente, Davi nos deixa o exemplo daquilo que está em 2 Coríntios 1.3-4, “Bendito seja o Deus (...) que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deusa, possamos consolar os que estão passando por tribulações.”. Ou seja, o que eu passei, Deus pode usar para ajudar aqueles que estejam passando pela mesma coisa! Deus não deseja nosso pecado ou sofrimento, mas Ele não deseja ainda mais é que desperdiçamos o que aprendemos ao passar por eles. 
    Além desse dimensão bem direta, a restauração de Deus nos causa mais dois efeitos posteriores. Primeiro, verso 14, sermos arautos da justiça de Deus. No que falamos e em com nossas próprias vidas. Quando somos livres da culpa, ou seja, do pecado, não o somos porque Deus “passou a mão” nas nossas cabeças.  Somos porque um Deus justo nos outorga a justiça conquistada pelo Seu Filho na cruz. Algo ainda futuro para Davi, mas já presente para nós. E, segundo, no verso 15, a obra de restauração de Deus em nossas vidas deve produzir adoração. Eu era sujo, culpado e pecador. Era indigno. Era excluído da presença do Rei. Agora... estou limpo, inocentado, perdoado. Sou bem-vindo para sentarmos à mesa do Rei com vestes dadas por Ele. Como não adorá-lO? :'(
    Davi se encaminha para o final deste lindo Salmo, desta reveladora canção. 
    No verso 16, Davi percebeu algo sobre o sistema sacrificial do Antigo Testamento que, eu creio, muito na época não perceberam. Isto é, Deus não é como as divindades pagãs do Egito, Canaã ou Caldeia. Ele não era Rá, Baal ou Astarote. Para esses falsos deuses criados pela imaginação e religiosidade humanas, o rito era o importante. A atitude interior nada significava. Mas, não para YAHWEH, o Deus Todo-Poderoso e Único Deus. Mil holocaustos sem arrependimento interno nada significavam. Mas, até mesmo nenhum sacrifício feito, mas um profundo e real arrependimento era suficiente para o perdão e a justiça de Deus se manifestarem. Não me entenda mal. Creio que o verdadeiro arrependido procedia com a obediência aos preceitos da Lei, mas essa obediência evidenciava o coração de quem ofertava um sacrifício. O interior antes do exterior. O exterior revelando o interior.
    E é sobre o interior que Davi fala a seguir (v.17). Com palavras como “espírito quebrantado”, “coração quebrantado e contrito”, Davi deixa claro o que ele havia aprendido. Uma pessoa assim tem atitudes (práticas) para remediar seus pecados e faltas. Haverá aquilo que Paulo chama de “a tristeza segundo Deus” (cf. 2 Co 7.9-11). A proporção do repúdio ao pecado revelará a proporção do amor a Deus, como já disse certo autor do passado. 
    Como terminar essa canção de confissão? Em uma nota para baixo? Não... em uma nota para cima! Para o futuro. Como já dissemos, o alvo da restauração espiritual verdadeira é dar esperança, além de glória a Deus.
    Davi termina cantando sobre o futuro glorioso da Jerusalém. A prosperidade de Sião (sinônimo de Jerusalém e, portanto, de Israel) está diretamente ligada à obediência às alianças. Ou seja, o que Davi pede não é riqueza e paz, mas pede essas coisas como evidências de um povo (e seu rei) obediente ao Senhor. Davi pede pela transformação de todo o povo de Deus, ele incluído, claro. Então... e só então... o sistema sacrificial faria sentido. E, ainda assim, necessário. Você percebe? Um povo obediente não significa um povo sem pecados. Infelizmente, é nossa verdade ainda hoje. Mas, a busca sincera pela obediência e por um coração quebrantado em arrependimento autenticaria a adoração e confissão de pecados através dos sacrifícios. 
    Deus tem, ainda hoje, um plano maravilhoso para os Seus eleitos, suas famílias e Sua igreja. Não a mera prosperidade material do A.T., mas o estar dentro dos propósitos de Deus, quer sejam eles doces ou amargos, pacíficos ou em tribulação. Nos manter obediente e arrependidos é o caminho para experimentar o melhor de Deus para esta dispensação, para este tempo da Nova Aliança. 
    O pecado sempre foi nosso inimigo. De Davi e nosso. E eles sempre precisa ser exposto à luz: da Palavra, da Verdade, e, às vezes, até de irmãos/amigos bem chegados. “confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados” (Tg 5.16). Isso produz cura espiritual e libertação em nossas vidas. E, a restauração os fará úteis ao Senhor novamente, para Sua glória.

Dia 12 de junho de 2016

“PARA BAIXO, TODO “SANTO” AJUDA (parte II)”

    Como vimos na primeira parte, o nosso título vem de um ditado conhecido. E o nosso texto, o Salmo 51, trata de uma subida e não de uma descida. Portanto, algo laborioso e difícil. Que requer dedicação e esforço.
    Tendo chegado ao versículo 5, aprendemos como Davi está suplicando a Deus baseado em quem Deus é e não em o que ele era ou poderia oferecer. Aprendemos que o pecado era um reflexo da própria condição de Davi e, na verdade, nossa também. E que, por essa razão, precisamos desesperadamente da Graça de Cristo nessa luta.
     Ao chegarmos ao verso 6, Davi expressa sua convicção sobre o que Deus espera do homem. Isto é, veracidade ou verdade. Em outras palavras, um interior que seja coerente, condizente, consoante. Mas, com o quê? Com a sabedoria que o próprio Deus tem colocado no coração (entendimento) daqueles que O pertencem. Se isso era fato na antiga aliança e seus corações de pedra, quanto mais hoje na Nova Aliança e nossos corações de carne onde a Lei do Senhor está escrita!
    Então, a lógica de Davi vai na seguinte sequência: sou pecador (v.5), há um padrão me sendo ensinado por Deus e pelo qual Ele espera que eu viva (v.6) e, no verso 7, quer me livrar do pecado, ser purificado e voltar a esse padrão de santidade. Os elementos usados para ilustrar essa purificação são excelentes. Primeiro, o hissopo lembra o aspergir do sangue do Cordeiro (Ex 12.21-220 na última praga do Egito e a consagração do livro da Lei (Hb 9.19). E o efeito seria uma brancura maior do que a própria neve. Creio que os leitores entenderam o argumento de Davi.
    A culpa trás um peso desanimador. Davi deixou isso muito claro no Salmo 32. Mas, agora, ele fala da alegria do perdão. O pecador é recebido com festa depois do seu arrependimento. Tal como o filho pródigo. Diante do seu arrependimento, o pai manda preparar uma festa porque “'este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado'. E começaram a festejar o seu regresso”. O castigo de Deus o havia esmagado, mas, como um Pai justo, Ele não permanece irado conosco. Ele se alegra diante do nosso arrependimento. Quantas vezes somos tentados a achar que fazer muitas coisas poderia impressionar o nosso Deus. Até mesmo alegrá-lo. Tal como Marta, irmã de Lázaro. Mas, a humildade do arrependimento ou, como no caso de Maria, o deleitar-se em Cristo, alegram o coração do nosso Deus muito mais. E a alegria dele, reacende a nossa que estava oculta pelo pecado.
    Davi deseja continuidade neste momento de restauração. Então, no verso 9, ele clama para que Deus perca de vista os seus pecados e os esqueça. Espero que você tenha percebido o dilema do pedido de Davi. Isto é, como um Deus onisciente e onipresente, que tudo sabe e pode ver tudo, poderia fazer isso para com Davi? A questão aqui é um tipo de adaptação humana da infinitude de Deus. Como quando evitamos palavras grandes, eruditas e difíceis quando falamos com uma criança de cinco anos, Deus nos faz promessas dizendo, “Sou eu, eu mesmo, aquele que apaga suas transgressões, por amor de mim, e que não se lembra mais de seus pecados.” (Is 43.25). Seu amor se manifesta em que Ele, por assim dizer, se adapta à nossa pequena compreensão.
O pecado causa manchas e deixa marcas. E muito disso persistirá depois de tudo. Davi sabe que apenas o Senhor pode reverter esses efeitos. Para ele, isso compreende um coração puro e um espírito estável (ou inabalável). Davi sabia que sua queda não havia acontecido “por nada”. Antes, era o resultado de uma progressiva corrosão e corrupção do seu coração, do seu centro de decisões. Ele havia se tornado mais e mais suscetível aos apelos da carne e do pecado e, por causa disso, cedeu à tentação. Prevendo que não era à prova de que isso se repetisse, ele clama a Deus por uma restauração que o leve a um estado melhor do que como estava. No verso 11, Davi continua seu clamor incluindo a comunhão com Deus e a ação do Espírito em sua vida. Em resumo, não somos nada diante da tentação sem o Senhor, Sua graça e a capacitação fortalecedora do Espírito Santo.
    A parte final do pedido de Davi (verso 12) fecha círculo com     alegria e perseverança na obediência. Essa alegria deve ser o estado permanente daquele que pertence ao Senhor. Claro que não é uma atitude de andar como um bobo, rindo à toa. Trata-se do contentamento e da felicidade de se pertencer a Deus. O que excede as circunstâncias ao nosso redor. Podemos estar tristes e abatidos por lutas e problemas, mas, ainda assim, felizes por estar passando por eles na companhia e proteção do Senhor. E continuarmos assim! Essa é a parte da perseverança na obediência. A promessa de Deus em Isaías, “se obedecerem, comerão o melhor desta terra” se traduz para nós cristãos em andarmos em comunhão com Deus e experimentando a totalidade do plano dEle para nós. Esse plano não significa necessariamente prosperidade material como era para aqueles que estavam debaixo da antiga aliança. Significa algo melhor e superior: a boa, perfeita e agradável vontade de Deus se realizando em nós e por meio de nós.
    Na terceira parte, vamos ver as considerações finais neste Salmo onde Davi expõe sua queda ao descrever sua busca por restauração e como ele terminará isso.

bottom of page